Dos estudos
"Os estudos servem para passatempo, ornato, habilitação. A sua principal utilidade para passatempo, é dada na solidão e no retiro; para ornamento, no discurso; para habilitação, no juízo; porque os homens peritos podem executar, mas os instruídos são mais aptos para julgar e censurar. Despender demasiado tempo com eles é indolência; usá-los demasiado no ornamento é afectação; formular sentenças inteiramente pelas regras deles é defeito escolar, Os estudos aperfeiçoam a natureza, mas são por sua vez aperfeiçoados pela experiência. os homens ladinos os condenam, os sábios os utilizam, os simples os admiram; porque tais homens não ensinam a estudar, apenas dizem que há uma sabedoria sem estudos, e outra para além dos estudos, ganha pela observação. Lede, nem para contraditar nem para acreditar, mas para ponderar e para considerar. Livros há que são para gostar, outros que são para engolir, e só alguns para mastigar e digerir; quer dizer, há alguns que são só para ler em parte, outros por mera curiosidade, e só alguns merecem ser lidos inteiramente com diligência e atenção. Ler amadurece o espírito, conversar adestra-o, escrever torna-o exacto: portanto, se o homem escreve pouco, necessita de grande memória; se conversa pouco, de vivacidade intelectual; e se lê pouco, de muita astúcia para simular que conhece o que não conhece. A história faz o homem sábio; a poesia engenhoso; a matemática subtil; a física profundo; a moral grave; a lógica e a retórica apto a discutir."- Francis Bacon, Ensaios (tradução de Álvaro Ribeiro), Lisboa, Guimarães Editores, 1992, pp.15-16.
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