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A mostrar mensagens de dezembro, 2025

Natal

 "Em 25 de Dezembro, a cristandade celebra um nascimento, o de uma criança chamada a fundar uma religião totalmente nova: Jesus de Nazaré, que se dirá o Messias e o Salvador de todos os homens. Esta celebração foi no entanto tardia. Sob certos aspectos, foi mesmo surpreendente. A data de nascimento de Jesus é na verdade perfeitamente desconhecida. Não se celebravam os aniversários no Próximo Oriente antigo e, geralmente, os pais não se recordavam da data exacta de nascimento dos seus filhos. Aliás, no cristianismo primitivo, não se punha em causa festejar o nascimento de Cristo: cerca de 245, Orígenes afirmou mesmo que era 'inconveniente' ocupar-se de tal questão, como se Jesus fosse um rei ou algum faraó!  As escrituras não nos prestam qualquer ajuda. O evangelho canónico mais antigo, o de Marcos, ignora tudo da infância de Jesus. Mateus situa o nascimento de Jesus em Belém de Judá, por causa de uma profecia (...). João situa-o vagamente na Galileia, citando, também, a pr...

Sócrates

 "Sócrates não tem actividade profissional. Desempenha escrupulosamente os seus deveres de cidadão, mas recusa-se a fazer política. Um dia o oráculo, solicitado por um dos seus amigos. designa-o como o mais sábio dos Gregos. Sócrates fica muito surpreendido e faz um inquérito para verificar as palavras do deus. Interrogando poetas, homens políticos e gentes de ofício, apercebe-se de que tinha sobre eles pelo menos uma vantagem: sabe que não sabe nada, enquanto que os outros se instalam numa certeza cómica. A partir de então, compreende a sua tarefa. Denunciar incansavelmente, sejam quais forem os riscos, as incoerências e as tolices que constituem a estrutura da opinião comum. Provocar, em conversas livres e abertas, aqueles que se impõem como mestres do pensamento, desde o 'professor' Górgias ao chefe político Alcibíades e do piedoso Êutifron ao estratega Laquete, a fim de lhes mostrar que quando falam, quando tentam expor as suas ideias, o que fazem é dizer tolices (toma...

Outono

 Agora que se aproxima o Inverno, as palavras de Teixeira de Pascoaes sobre o Outono, ainda num tom de evocação romântica. "O Outono é uma doença das árvores e da minha alma que desfalece, como elas, e fica sozinha numa paisagem moribunda.  Mas os fantasmas aparecem, no ermo. O silêncio das coisas desperta os mortos, em vez de lhes prolongar o sono. Levantam-se do túmulo e surgem, diante de nós. Vemo-los claramente. Porquê? Porque não somos apenas realidade. A fantasia dos deuses colabora também no nosso ser. Em nós, há uma parte ilusória, por intermédio da qual convivemos com as almas e divagamos nos píncaros da Lua. Eu bem sinto o que, em mim, existe de quimérico, este poder de baixar ao Inferno e de subir na Luz espiritual."- Teixeira de Pascoaes, Livro de Memórias, Lisboa, Assírio e Alvim, 2001, p.42.

E para terminar...

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 ,,, as sugestões natalícias, não podia faltar o romance. Neste caso o primeiro grande romance alemão, uma espécie de D. Quixote das terras do Reno, com tudo o que isso implica, ao nível do picaresco e do filosófico. Vou deixar aqui o comentário que pode ser lido no site da editora:   Considerado o primeiro grande romance da literatura alemã e com uma importância equivalente à de «Dom Quixote», de Miguel de Cervantes. Simplicissimus , escrito por Johannes von Grimmelshausen em 1668, é considerada uma das obras mais importantes da literatura barroca alemã. A narrativa acompanha a vida de um jovem ingénuo, Simplicius, durante a devastadora Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). O  protagonista, arrancado de uma pacata vida rural depois de um ataque à sua aldeia, embarca numa jornada marcada por aventuras surreais, desventuras cómicas e encontros filosóficos. Enquanto tenta compreender o mundo que o rodeia, Simplicius passa por várias transformações – de pastor a eremita, solda...

E mais uma sugestão

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 Desta vez relativa ao mais famoso cidadão de Genebra. E às suas Confissões , das quais surgiu agora o segundo volume. Há filósofos que escreviam de forma áspera, como Hegel; há filósofos que escreviam de forma límpida, como Rousseau. Concordando-se ou não com muitas das suas teses, vendo nele ou não um inimigo da liberdade, o certo é que, esteticamente, foi dos maiores cultores do estilo da época. Se é que tal coisa existiu. E um videozinho sobre Rousseau para ajudar à compreensão do autor.

Mais umas sugestões

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 E como este espacinho não serve apenas a Filosofia, mas também outras disciplinas leccionadas pelo grupo 410, hoje ficam aqui 3 sugestões relativas à Ciência Política. Duas são de um prolífico autor português, conhecido também pelo comentário televisivo. Trata-se de Miguel Morgado e das suas introduções ao liberalismo, saída recentemente, e ao conservadorismo. A outra diz respeito à autobiografia de um dos mais influentes políticos do século XX, Trotski, e saiu também há pouco tempo. Amanhã haverá novas sugestões natalícias.

Últimos e Primeiros Homens

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 E como está a aproximar-se o Natal vou deixar aqui algumas sugestões de leitura, de cariz filosófico, essencialmente, mas que abrangerão também outras áreas. A primeira referência vai para uma obra publicada em 1930 e na qual, sob a capa da ficção científica, se escondem múltiplas e diferentes reflexões sobre a natureza da humanidade, o conceito de progresso, a organização social e outras temáticas tão queridas ao pensamento filosófico de todos os tempos. Por isso, apreciadores de ficção científica, mas não só, têm aqui algumas centenas de páginas que lhes serão certamente proveitosas. Olaf Stapledon escreveu, VS editor lançou. Vale a pena.

Tradição

 "Quando antigas convicções e regras de vida são retiradas, a perda é talvez incalculável. A partir desse momento não temos compasso que nos governe, nem podemos saber distintamente para que porto navegar. A Europa, tomada no seu conjunto, estava, indubitavelmente, numa condição florescente no dia em que a vossa Revolução se deu. Quanto desse estado próspero se devia ao espírito dos nossos costumes antigos e das nossas convicções não é fácil dizer, mas, como o operar dessas causas não pode ser indiferente, devemos presumir que, no todo, a sua actuação era benéfica."- Edmund Burke, Reflexões Sobre a Revolução em França (trad. de Ivone Moreira), Lisboa, FCG, 2015, p.138.

Nada de novo debaixo do Sol

"Bem podem todos os espíritos reflectidos agradecer a Deus por lhe ter sido dado nascer nesta nova idade, tão cheia de esperança e promessas, que já rejubila na maior plêiade de almas nobre e dotadas que o mundo viu nos últimos 1000 anos."- Matteo Palmieri (1440).  "Deus imortal! Que século vejo a começar! Se pelo menos pudesse ser jovem outra vez!"- Erasmo de Roterdão (1517). "Que século! Que letras! Que alegria estar vivo!"- Ulrich von Hutten (1518). "Estar vivo naquele alvorecer era uma benção/Mas ser jovem era o próprio paraíso."- Wordsworth, a propósito da Revolução Francesa (1805). (Todas as citações extraídas da obra de Jacques Barzum, Da Alvorada à Decadência , tradução de António Pires Cabral e Rui Pires Cabral, Lisboa, Gradiva, 2003).

Dos estudos

 "Os estudos servem para passatempo, ornato, habilitação. A sua principal utilidade para passatempo, é dada na solidão e no retiro; para ornamento, no discurso; para habilitação, no juízo; porque os homens peritos podem executar, mas os instruídos são mais aptos para julgar e censurar. Despender demasiado tempo com eles é indolência; usá-los demasiado no ornamento é afectação; formular sentenças inteiramente pelas regras deles é defeito escolar, Os estudos aperfeiçoam a natureza, mas são por sua vez aperfeiçoados pela experiência. os homens ladinos os condenam, os sábios os utilizam, os simples os admiram; porque tais homens não ensinam a estudar, apenas dizem que há uma sabedoria sem estudos, e outra para além dos estudos, ganha pela observação. Lede, nem para contraditar nem para acreditar, mas para ponderar e para considerar. Livros há que são para gostar, outros que são para engolir, e só alguns para mastigar e digerir; quer dizer, há alguns que são só para ler em parte, outro...

A Caverna, mais uma vez.

  "O mito da caverna é uma alegoria, ou seja, uma narração simbólica. Simbolizava o contraste entre a escuridão da ignorância e a luz do conhecimento. No livro VII d’A República Platão imagina que Sócrates o expõe ao jovem Gláucon. O estado de ignorância é simbolizado pelas trevas de uma caverna, onde alguns homens se encontram encerrados desde meninos. Estão presos de modo a só poderem olhar para o fundo da caverna. A escuridão não é total porque do lado de lá da entrada está uma fogueira. Entre o fogo e a entrada passam homens que transportam ás costas vários objectos. Mas os prisioneiros não podem ver nem sequer as sombras desses homens porque entre eles e a entrada da caverna há um pequeno muro que impede a projecção das suas sombras no fundo da caverna, permitindo ver apenas as dos objectos que eles transportam às costas. “Que estranho quadro!”, observa Gláucon. “Não é tão estranho como isso, já que nós não nos encontramos numa melhor situação”, replica Sócrates.   É a...

Poesia

 A poesia, como sabemos, pode ser filosofia. E vice-versa. Rilke foi um dos que intuiu essa evidência. Na passada Quinta-feira assinalaram-se os 150 anos deste que é um dos mais importantes poetas do século XX.  Em Portugal temos a felicidade de ter ao dispor boa parte da sua obra, dispersa por diferentes editoras, mas sobretudo na Assírio e Alvim. Foi aí que saiu, há poucas semanas, Exposto Sobre as Montanhas do Coração , antologia da responsabilidade de Maria Teresa Dias Furtado, que muito tem feito por dar a conhecer a poesia de Rilke e de outros nomes da cultura de expressão alemã. "Vida e arte, mutação e criação/ misteriosa escolha de uma mesma torrente; em ambas excesso e contenção/ se instauraM alternada e enigmaticamente." Assim se inicia esta antologia. O resto, a excelência do verbo de Rilke, cabe ao leitor descobrir.