Utilitarismo

 "A doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade ou o princípio da maior felicidade, defende que as acções são correctas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorrectas na medida em que tendem a gerar o contrário da felicidade. Por felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por infelicidade, a dor, e a privação de prazer. Para dar uma perspectiva clara do padrão moral estabelecido pela teoria é preciso dizer muito mais; em particular, que coisas se inclui nas ideias de dor e prazer; e até que ponto isto é deixado como questão em aberto. mas estas explicações suplementares não afectam a teoria da vida na qual esta teoria da moralidade se baseia - nomeadamente, que o prazer, e a ausência de dor, são as únicas coisas desejáveis como fins; e que todas as coisas desejáveis (que são tão numerosas no esquema utilitarista como em qualquer outro) são desejáveis ou pelo prazer inerente a si mesmas, ou como meios para a promoção do prazer e a prevenção da dor. (...).

 De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou quase todos os que tiveram experiência de ambos dão uma preferência determinada, à margem de qualquer sentimento de obrigação moral para o preferirem, esse é o prazer mais desejável. Se um dos dois é colocado, por aqueles que estão competentemente familiarizados com ambos. tão acima do outro que seriam capazes de preferi-lo mesmo sabendo que seria acompanhado de uma maior quantidade de insatisfação, e não abdicariam dele por quantidade alguma do outro prazer de que a sua natureza é capaz, temos justificação para atribuir ao prazer preferido uma superioridade em qualidade que ultrapassa de tal maneira a quantidade que a torna, por comparação, de escasso interesse.

 Mas é um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente familiarizados com ambos, e são igualmente capazes de os apreciar e gozar, dão uma acentuada preferência ao modo de vida no qual se faz uso das faculdades superiores. Poucas criaturas humanas consentiriam em ser transformadas em qualquer um dos animais inferiores, a troco da máxima quantidade dos prazeres de um animal; nenhum ser humano inteligente consentiria em ser um idiota, nenhuma pessoa instruída seria um ignorante, nenhuma pessoa de sentimento e consciência seria egoísta e primária, ainda que estivessem convencidas de que o idiota, o ignorante e o tratante se sentiam mais satisfeitos com o que lhes cabia em sorte do que eles com o que lhes cabia em sorte a eles."- Stuart Mill, Utilitarismo, in Textos e Problemas de Filosofia (org. Desidério Murcho, Aires Almeida), Lisboa, Plátano, 2005.

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