Alegoria da Caverna
O excerto da obra República, conhecido como Alegoria da Caverna, tem sido um dos textos mais inspiradores da história da filosofia. Mais de vinte séculos após ter sido escrito por Platão foi revisitado por Denis Diderot (1713-1784), um dos filósofos mais influentes do Iluminismo francês:
“Tínhamos todos as mãos e os pés acorrentados e as nossas
cabeças tão bem seguras por dispositivos de imobilização de madeira que era
impossível que as virássemos. As costas estavam voltadas para a entrada deste
lugar e só conseguíamos ver o seu interior, ao longo do qual tinha sido
pendurada uma imensa tela.
Por detrás de nós
estavam reis, ministros, sacerdotes, doutores, apóstolos, profetas, teólogos,
políticos, aldrabões, charlatães, ilusionistas e toda a espécie de negociantes
em esperanças e medos. Cada um deles tinha um pequeno conjunto de figuras
transparentes e coloridas correspondentes ao seu cargo e tão bem feitas, tão
bem pintadas, tão numerosas e diversas que conseguiam representar todas as
cenas cómicas, trágicas e burlescas da vida.
Estes charlatães […]
tinham um grande candeeiro por detrás deles e à frente da sua luz colocavam as
suas figurinhas, de modo a que as suas sombras fossem projectadas sobre as
nossas cabeças, ao mesmo tempo que aumentavam de tamanho, vindo pousar sobre a
tela ao fundo da caverna, compondo cenas tão naturais e tão verdadeiras que
julgávamos serem reais, umas vezes rindo-nos a bandeiras despregadas, outras
chorando ardentes lágrimas, o que vos parecerá um pouco menos estranho sabendo
que, por detrás da tela, estavam uns patifes contratados para fornecerem
àquelas sombras as acentuações, o discurso, as verdadeiras vozes dos seus
papéis.”- in Andrew S. Curran, Diderot e a Arte de Pensar Livremente,
Lisboa, Temas e Debates, 2019.
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