Posts

Os grandes filósofos

Image
 Em 1987 a BBC emitiu uma série de programas sobre a vida e a obra de grandes filósofos. Constava de uma sérei de entrevistas, realizadas por Brian Magee, a diferentes filósofos (Peter Singer, Bernard Williams, Martha Nussbaum, entre outros) sobre outros tantos nomes maiores do pensamento. A série deu origem a um livro no qual podem ser lidas as 15 entrevistas. Editado em Portugal em 1989, é ainda hoje uma das melhores introduções à filosofia que por aí circulam. As entrevistas, essas, estão disponíveis no Youtube, e quem perceber bem a língua inglesa só tem a ganhar em ouvi-las. Fica aqui a relativa a Descartes.

Francisco Sanches

 "É inato ao homem o querer saber: a poucos é dado o saber querer; a menos ainda o saber. Para mim não abriu a fortuna excepção. Desde o começo de minha vida que eu, dado à contemplação da Natureza, tudo perscrutava sem descanso.  A princípio, o meu espírito, ávido de saber, contentava-se com qualquer alimento que se lhe oferecia; a breve trecho, porém, se lhe tornou impossível digerir e começou a vomitar tudo o que ingerira. Tratava eu já então de ver com todo o cuidado o que havia de dar-lhe que ele digerisse e assimilasse bem; nada havia que satisfizesse os meus desejos. Passava em revista as afirmações dos passados, sondava o sentir dos vivos; respondiam o mesmo; nada, porém, que me satisfizesse. Algumas sombras de verdade, confesso, me entremostravam alguns; mas não encontrei uma só que com sinceridade e de uma maneira absoluta dissesse o que das coisas deveríamos julgar. Voltei-me então para mim próprio; e pondo tudo em dúvida como se até então nada se tivesse dito, come...

O Deus enganador

 É frequente a confusão entre o "Deus enganador e o "génio maligno", quando falamos da filosofia cartesiana e das diferentes etapas da dúvida. Aparentemente idênticas são, na realidade, noções diferentes. O "Deus enganador" surge na sexta etapa da Primeira Meditação e é algo já equacionado à época. Assim, o "Deus enganador" seria uma espécie de pai que acalma as crianças perante algum terror, um medo, um cenário angustiante. Como refere Luc Ferry, na obra aqui sugerida há 15 dias, Descartes pretende dizer-nos que é possível que exista um Deus "e que esse Deus me engane por benevolência, para evitar que cometa disparates ou acredite em coisas erradas" (Ferry;2025, 120), algo admissível por alguns teólogos desta época. E algo diferente, portanto, da hipótese do tenebroso, mas brincalhão, génio..

A Desolação do Mundo

Image
 Enquanto não migramos para uma nova plataforma (as mudanças são sempre demoradas), deixamos aqui uma nova sugestão. Desta vez trata-se de um autor português, Orlando Vitorino.  Se não forem os professores da disciplina a fazer ver aos alunos que existem, e existiram, filósofos portugueses, aqueles saem do ensino secundário sem qualquer noção acerca desse assunto. Para as aprendizagens essenciais a filosofia em Portugal deve ser algo de inexistente, tal como para a maioria dos autores de manuais escolares . em quantos encontramos referências a filósofos nacionais?  E, no entanto, a filosofia em português move-se. Moveu-se. Desde Prisciliano, se quisermos, a Pedro Hispano, Francisco Sanches, Leonardo Coimbra, passando por Pedro da Fonseca, os Conimbricenses, Sampaio Bruno, Agostinho da Silva, José Marinho e tantos outros.  Há quem desconfie da chamada "filosofia portuguesa". Há quem não considere a mesma, sequer, como filosofia. Mas que ela existe e é praticada, exerc...

História da Filosofia

Image
 Antes da História, um esclarecimento: agora que se iniciou o novo ano escolar, voltamos a postar aqui qualquer coisa de útil. No ano passado, a frequência não foi a desejada. Deste modo, para este ano, o projecto passa por estabelecer uma plataforma nova, possivelmente no Instagram (veremos se nos orientamos com tão avançada tecnologia), porque a grande questão que se coloca é a de saber se alguém, hoje em dia, ainda frequenta blogues.  Assim sendo, fica então a informação. É provável que o blogue migre para outra plataforma, mas a fazê-lo ficará aqui a informação. Enquanto tal não sucede, deixamos neste post uma sugestão, a de uma nova História da Filosofia. Já existem umas quantas no mercado, em vários volumes ou num só, mas já há algum tempo que não se editava uma nova. Fê-lo agora a Guerra e Paz, com este título da responsabilidade de Luc Ferry, filósofo francês com vários títulos anteriormente traduzidos em Portugal.

A História das Ideias

Image
  Ora aqui está uma sugestão que, acabando por se dirigir mais a professores, pode ser também interessante para alunos que se sintam atraídos pela filosofia política.  Trata-se de um volume em que se analisam doze obras contemporâneas, entre as quais três de autores conhecidos de qualquer estudante do 10ºano, Jeremy Bentham, John Rawls e Robert Nozick.  Saída recentemente, é uma obrazinha que se lê com agrado, numa linguagem acessível, rigorosa, mas sem floreados desnecessários. Além da análise das obras oferece-nos ainda uma breve biografia de cada um dos autores, bem como sugestões de leitura acessórias.

Utilitarismo

 "A doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade ou o princípio da maior felicidade, defende que as acções são correctas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorrectas na medida em que tendem a gerar o contrário da felicidade. Por felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por infelicidade, a dor, e a privação de prazer. Para dar uma perspectiva clara do padrão moral estabelecido pela teoria é preciso dizer muito mais; em particular, que coisas se inclui nas ideias de dor e prazer; e até que ponto isto é deixado como questão em aberto. mas estas explicações suplementares não afectam a teoria da vida na qual esta teoria da moralidade se baseia - nomeadamente, que o prazer, e a ausência de dor, são as únicas coisas desejáveis como fins; e que todas as coisas desejáveis (que são tão numerosas no esquema utilitarista como em qualquer outro) são desejáveis ou pelo prazer inerente a si mesmas, ou como meios para a promoção do prazer e a prevenção da...