Descartes (1596-1650) parte de uma evidência: a da confusão intelectual instalada na sua época, em que o cepticismo abala a confiança nas capacidades da razão humana e na possibilidade de conhecer. Feita esta constatação, Descartes propõe-se utilizar a estratégia dos cépticos: colocará em prática a dúvida, não com o intuito destrutivo de quem questiona sem uma finalidade definida, mas tendo em vista a aquisição de uma certeza inabalável, fundamento sólido para a edificação do conhecimento. A dúvida será, então, o meio de que Descartes se serve para conseguir uma evidência clara e distinta. A ela tudo se deverá submeter numa sucessão de etapas que culminarão no cogito, verdade primeira que nem as mais extravagantes suposições dos cépticos conseguirão abalar, nas palavras do filósofo. A dúvida metódica prossegue, como atrás se disse, por etapas. Em primeiro lugar questionam-se as evidências dos sentidos. Tendo em conta que estes nos enganam algumas vezes, conclui-...
À ideologia enquanto conceito pode aplicar-se o dito augustiniano sobre o tempo: “se não me perguntarem o que é, sei; se me perguntarem não sei.” Conjunto de preceitos para a vida social, capazes de facilitar uma integração? Com o necessário risco de exclusão, pois nem todos podem incluir-se na ideologia desejada, abençoada. Determinam comportamentos, até ao extremo nalguns casos. O seu poder é tal que “…para Isaiah Berlin, o desenvolvimento das tecnologias e das ciências, e as grandes tempestades ideológicas são os dois factores decisivos da história do século XX” (Ball). Pergunta: continuará o século XXI a ser marcado pelas ideologias? Até ao momento podemos dizer que sim, pelo menos aparentemente. Uma das ideias que se repete constantemente é a da falência dos chamados partidos do centro. No entanto, se isso parece ser verdadeiro, tal não significa o fim das ideologias, pois as mesmas não se esgotam em tais movimentos (até certo ponto despojados frequentemente de carg...
O excerto da obra República , conhecido como Alegoria da Caverna , tem sido um dos textos mais inspiradores da história da filosofia. Mais de vinte séculos após ter sido escrito por Platão foi revisitado por Denis Diderot (1713-1784), um dos filósofos mais influentes do Iluminismo francês: “Tínhamos todos as mãos e os pés acorrentados e as nossas cabeças tão bem seguras por dispositivos de imobilização de madeira que era impossível que as virássemos. As costas estavam voltadas para a entrada deste lugar e só conseguíamos ver o seu interior, ao longo do qual tinha sido pendurada uma imensa tela. Por detrás de nós estavam reis, ministros, sacerdotes, doutores, apóstolos, profetas, teólogos, políticos, aldrabões, charlatães, ilusionistas e toda a espécie de negociantes em esperanças e medos. Cada um deles tinha um pequeno conjunto de figuras transparentes e coloridas correspondentes ao seu cargo e tão bem feitas, tão bem pintadas, tão numerosas e diversas que conseguiam repr...
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